O leão, inovador, mal tinha acabado de matar.
A caça arfava; seduzida pela caçada se entregava; olhos gozosos enquanto o rei descansa.
O elegante leão, surpreendentemente, pausa tudo.
Revisa o tempero e o tempo. Os filhotes famintos deliram. Em cuidadosa aula ensina: caça fresca de bom aspecto, bem escolhida; dá-lhe algumas patadas; está gloriosa e realizada. Apenas proteina, nenhuma história.
O leão, caçador galã, não revela de quem é o mérito da caçada.
Olha para a plateia com olhos humanos.
Concorrentes, conhecidos e chegados admiram.
O carnívoro descansa sua arma afiada sobre a forma vazia.
Os veganos não concordam, mas são frágeis e alternativos.
Recusam-se a ser vistos como doadores de vida que são.
O Leão,
Descreve sua receita sobre morte: luta bruta, involuntária e repetida; ânsia de vida.
A caça, salpicada de moscas famintas como temperos, empanada no pó dos antepassados e no suor de sua luta perdida aguarda, da fome que não é sua, a boca enorme e a transubstanciação amarga.
No último dia, último de todos, o gosto do próprio sangue.
Deus, meu Deus! Por que a abandonaste?
Em câmera lenta, o mestre revisa cada detalhe:
A superioridade em dissimular o ataque, a troca de olhares na sedução mortal e como será levada ao santuário escondido: boca grande, dentes fortes, paciência; a garganta se abre: terra podre, terra sagrada, vida sugada.
Com urro desencantado expõe a intimidade do que conhece como dor, como obrigação nas caçadas:apenas teatro, superficial; um clássico de fim de noite.
Não há segredo que resista aos dentes agudos, nem tempo para confessor.
Nem há tempo! E o tempo não interessa mais. Nada mais interessa.
No saque, conclui o sacador, a carne preenche a vida. E só!