No carro ia uma senhora conhecida. Sabia disso apesar de estar na frente, separados. Íamos em silêncio, o carro também, Atrás de respostas; conhecidas. Ela seguia continuamente calada. Empurrada sobre estreita cama baixa de rodas Não reclamava,ia apenas,obediente. Uma senhora séria,severa,calada. Queria respostas não encontradas;traída. Sempre deitada,como que treinando. Entrou espontaneamente contida No deus humano metalizado. Queria resposta esquivada. Ficou lá imóvel,enterrada na máquina artificialmente viva. Eu,ao lado, assistia ao ensaio. Voltamos em silêncio, de novo, todos. O carro fazia curvas,subia,descia. E já não havia nenhuma novidade. As árvores presas ao presente,os pássaros sem rumo, o gado deitado, os cavalos magros os cães sempre vadios e os gatos dissimulados. E as pessoas, todo dia novas e estranhas, percorriam aquele mesmo trajeto. Ignoravam a senhora que foi e voltava encistada no mesmo corpo inerme. Ignoravam seu nome,sua existência e seu fim. No segundo dia do retorno como estalo da memória, revelou o que entendeu da mensagem do deus humano metalizado. Repetiu o que ouviu, claro e irrevogável: " ra ra ra ra ra ra... trum trum trum trum... ziimmm ziimmm ziimmm. tá zoin tá zowwwin tá zoin... brump."
Eu ri, achando divertido. Muitos riram. Ela continuava espirituosa.
Ela repetia ansiosa para que entendêssemos.
Não entendíamos, ou fingíamos.
Ela só queria comunicar, e recusamos ouvir
Que o deus humano metalizado sentenciou:
Seu fim chegara.
Ela queria escapar e pedia ajuda.
Nós ríamos. Ela continuava espirituosa.