Dois do Onze
Dois do Onze
Roberto Vagner Reis
A areia das palavras polvilha
O recheio dos dias.
Torna os dentes destes dias
Rugosas armadilhas.
A areia do silêncio em diversas granulações
Suga a umidade e o prazer.
E o silêncio é nobre.
E sua insistência é dor.
Na cabeça, o relógio entupido de pensamentos
Arenosos, miragens cortantes.
E nas veias finas grãos existem:
Suas existências inconscientes as salvam.
No peito, bomba à vácuo repele areia sob pressão.
E retém poeira levantada, tóxica.
Sopros curtos, sopros longos, ausências
Obrigam o peito a se movimentar e sentir.
Processadores habilitam areias.
Os grãos se esfarelam e se reproduzem e crescem
Cheios de sonhos.
Se solidarizam, formam ONGs.
A betoneira do mundo misturando tudo
De boca aberta, aborta areia grossa.
E os dias são coleções de grãos esquecidos
Esgrouvinhados sob sol burocrático.
Dias impactantes são registrados
E mudam completamente, pelo vento, um único grão, toda a existência do mundo.
E as máquinas de areia, produtoras de areia, sonhos de areia
Alugam salas e apartamentos sob as bênçãos.
De seus múltiplos e irreconciliáveis deuses e seus tronos de areia.
Agora em paz, todos.
Todos de mesma areia acreditada variada.
Exibem, enfim, o opaco duro do vidro.
Não há palavras, não há silêncio.
Não há pulsos nem pulsões.
Não há promessas ou seu medo.
Não há nada além de um ponto final; um grão.
Final de noite, final de reunião.
Nunca saberemos os finais das conversas.
Descansam em casas vazias, em camas de areias.
Cabinas mágicas, escondem mistérios.
Sobre vazios, lágrimas de areias derramadas.