O leão inovador mal tinha acabado de matar.
Sua caça ainda arfava e seduzida pela caçada
se entregava, olhos gozosos
enquanto o rei descansava.
O elegante leão, surpreendentemente, pausa tudo.
Revisa o tempero e o tempo. Os filhotes famintos deliram.
Em cuidadosa aula ensina:
Caça fresca de bom aspecto e bem escolhida; dá-lhe algumas patadas.
Está gloriosa e realizada. Apenas proteína, nenhuma história.
O leão,caçador afamado, meio galã e ator canalha
Olha para a plateia com olhos quase humanos.
Concorrentes conhecidos e chegados estão admirados.
O carnívoro irracional descansa sua arma sobre a forma vazia.
Os veganos não concordam.
São frágeis e alternativos e
recusam-se a serem como doadores de vida, que são.
Ameaçam dar as costas, mas, sem forças, assistem.
Os verdes colhidos não têm opinião.
O Leão
descreve sua receita sobre morte crua e sua luta involuntária
e repetida, ânsia de vida.
A caça, salpicada de moscas famintas como temperos,
empanada no pó de seus antepassados e no suor de sua luta perdida
aguarda da fome, a boca enorme e a transubstanciação amarga.
No último dia, último de todos, o gosto amargo
do próprio sangue.
Em câmera lenta, o mestre relembra cada detalhe:
sua superioridade em dissimular o ataque,
a troca de olhares, sua determinação e revela
de que modo será a caça levada ao santuário escondido:
boca grande, dentes fortes, paciência; a garganta se abre:
terra podre, terra sagrada onde a vida é sugada.
Com um urro marcante e bafo desencantado
expõe a intimidade do que conhece como dor, por ver, nas caças:
apenas teatro, superficial; um clássico de fim de noite.
Não há segredo que resista aos dentes agudos, nem tempo para confessor.
Nem mesmo há tempo. E o tempo não interessa mais. Nada mais interessa.
No saque, conclui o sacador, a carne preenche a vida. E só!